sábado, 28 de março de 2009

Se não fosse o vento... que dia de praia !






Carta de Mitsou a Marilyn...




Tinha-me esquecido de retomar por aqui a saga de “Amados Gatos” de José J. Letria , quando esta semana fui lembrada por uma engraçada crónica de MEC , no Público desta semana ,sobre a sua mudança de casa e o conservadorismo extremo dos seus gatos à casa antiga e os desacatos provocados pela mudança… “ Eles odeiam mudar de casa. Nem é preciso a casa : odeiam mudar. Gostam dos donos (ou” escravos”, na gíria deles) mas não suportam o nomadismo berbere que nos perpassa as almas….”

Lembrei-me então de algumas passagens da carta que , MITSOU, o gato de Marilyn , lhe escreveu .
Querida Marilyn,

Dificilmente poderá ser descrita a mágoa que sinto por te ver partir tão jovem, tão bela e tão amargurada. Tu tinhas o mundo na mão e esbanjaste esse tesouro porque nunca conseguiste ser tão livre e tão rebelde como eu fui, o teu querido Mitsou, o gato persa branco que agora deixas em verdadeiro estado de orfandade, apesar da promessa feita por Joe Di Maggio de que cuidará de mim até eu desaparecer.
Tu bem sabes ,Marilyn , que tentei afastar-te do abismo em que dia a dia te afundavas, bebendo de mais , tomando comprimidos em excesso e entregando-te sem reservas e sem condições aos homens que não podiam nem queriam amar-te como tu esperavas e merecias. Fosse eu homem e não gato, e ter-te-ia dado tudo aquilo de que tu necessitavas para ser feliz.
A tua ligação a Arthur Miller nunca podia ter resultado, porque ele queria paz e sossego para escrever e tu atraíste para ele os projectores de uma fama que ajudava a vender livros e a encher as salas de teatro , mas que o intimidava e deixava tenso, apreensivo e inseguro….
… Di Maggio, esse ídolo da América popular, amou-te cegamente e tu foste o único campeonato que ele não conseguiu vencer…
….Depois tiveste a ilusão de que os dois Kennedy te poderiam fazer feliz…. Nunca trocariam as suas carreiras pelo teu amor pelo fogo da tua entrega física…
O que resta de ti, agora querida Marilyn, beleza estonteante de um tempo apressado e frívolo?... Como eu lamento a tua amarga sorte!
Ainda te sugeri que partíssemos os dois para a Europa, talvez para a Veneza dos gatos, para ficarmos longe de tudo o que te atormentavae, sobretudo daqueles que, por amares de forma excessiva e insensata, te passaram a ver como um fardo e como uma ameaça.

Só de uma coisa tenho a certeza: tu foste a minha deusa e o grande amor da minha vida , e ainda hoje, quando te vejo no ecrã ,tenho pena que os gatos não estejam treinados para chorar , pois havia de verter por ti as lágrimas mais desesperadas que alguém verteu por um ser amado.
…Até sempre , querida Marilyn.
O teu
Mitsou