quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ainda o premiado...

Pintura e poema de Ferreira Gullar
PINTURA
Eu sei que se tocasse
com a mão aquele canto do quadro
onde um amarelo arde
me queimaria nele
ou teria manchado para sempre de delírio
a ponta dos dedos.

Poema de Ferreira Gullar
In, Poemas Escolhidos

Ferreira Gullar, prémio Camões 2010











Fagner canta poema de Ferreira Gullar

BRAVO!: O senso comum costuma apregoar que poetas nascem poetas. Poesia é destino?
F. Gullar: Prefiro dizer que é vocação. O poeta traz do berço um modo próprio de lidar com as palavras. Não se trata, porém, de um presente dos deuses, de uma concessão divina, como se pregava em outras épocas. Trata-se de um fenómeno genético, biológico, sei lá. Há quem nasça com talento para pintar, jogar futebol ou roubar. E há quem nasça com talento para fazer poemas. Sem a vocação, o sujeito não vai longe. Pode virar um excelente leitor ou crítico de poesia, mas nunca se transformará num poeta respeitável….
…. Se não estudar, se não batalhar pelo domínio da linguagem, acabará desperdiçando o talento. “Nasci poeta, vou ser poeta”. Não, não funciona assim. Converter a vocação em expressão demandada um esforço imenso. Tudo vai depender do equilíbrio entre o acaso e a necessidade. A vocação é o acaso. A expressão é a necessidade. No fundo, a vida não passa de uma constante tensão entre acaso e necessidade.



(pequeno excerto de uma entrevista dada à revista brasileira BRAVO! em Março de 2009)