quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lembrar Matilde Rosa Araújo... 1921-2010


“Lembrar a infância para quê? Porquê? Que sonho nos acorda neste lembrar? É sempre, ou quase sempre, uma pungência de sentidos desperta, uma ligação com a madre que ganha o sinal das suas profundezas, a verificação de que crescer foi o entender da finitude da vida: esse acabar de deslumbramentos perante as coisas vistas pela primeira vez sem o sentido do acabar por qualquer morte.
Lembrar a infância será ter saudade do que se foi, com o peso do já ter vivido: será, recrear uma apetência insatisfeita para uma vida vivida com objectivos ideais, apetência ligada com a origem mas com a frustração do uso.”
…..
Este o excerto do prefácio de um livro de cabeceira de Matilde Rosa Araújo, INFÂNCIA LEMBRADA, que tenho usado ao longo do tempo neste espaço, quando quero pôr um dos nossos poetas a falar da sua infância, pois este livro é uma recolha de poemas sobre a infância de todos os grandes poetas portugueses...


FICOU DA INFÂNCIA A FEBRE

Ficou da infância a febre
De correr parado
Pelas estradas

Podes chamar-lhe versos
São viagens

Ficou na infância a fisga
De arremessar ao vento

Podes chamar-lhe versos
São pedradas

DE Daniel Filipe , o poema
Ilustração de Maria Keill