terça-feira, 5 de outubro de 2010

O fado na república (3), dia do seu centenário


1.“O Canto do Fado terá um papel fundamental na difusão das ideias libertárias em Portugal…
Folhetos há que são fundamentais para se perceber o amor e dedicação que um grupo de homens – hoje em muito ignorados ou esquecidos – deu a este canto urbano, operário e libertário, contribuindo para a implantação da República em Portugal em Outubro de 1910.
2. Canto Libertário
O Canto do Fado emerge, documentalmente, na cidade de Lisboa, no segundo quartel do Século XIX, fortemente ancorado na palavra poética improvisada, logo dialogal, e também em determinado tipo de coreografias. No inicio da segunda metade do mesmo séc. , transforma-se num canto libertário, suportados pela décima – improvisada ou memorialista – e cuja origem terá que sr encontrada na industrialização e na catequética operária de espírito internacionalista.
Assim o Canto do Fado é, antes de mais, um canto produto da imprensa e da industrialização.
O Canto do Fado que se pratica em 1910 é um canto engajado na luta politica, fazendo parte de uma grande família de práticas de cariz industrial, com uma geografia que vai de Lisboa a Buenos Aires, de Múrcia a Havana, e que utilizaram a mesma estrofe e melodias populares locais ou regionais para transmitir conhecimentos e internacionalizar uma noção de classe, em muito suportadas por um discurso de paz, que este provérbio levantino muito bem caracteriza:
Quem afia versos, não afia navalhas.”


Texto de Paulo Lima, in Catálogo de exposição Fado 2010


“ A Pátria enfim respirou”: o triunfo da República

Viva a Pátria Portugueza
Que a República salvou,
De morrer na indigência
A que a monarquia a deitou.

Nobre pátria sem igual,
Berço de navegadores
E de heróis libertadores,
Grande e nobre Portugal,
Ia tendo por seu mal
Quem a levasse à vileza
Mas derrotou-se a nobreza
Pelo pendão verde-rubro,
Viva o dia 5 d' Outubro
Viva a Pátria Portugueza.

Ao sentir-se a derrocada
Da extinta monarquia,
A Pátria sucumbiria
Por estar mal governada,
Mas a turba ignorada
A que glória a levou,
Na Rotunda vincou
Patriotismo sem igual,
Pois foi o velho Portugal
Que a República salvou.

Imperava o cinismo
Governando a nação,
Mandava a perversão
E o vil jesuitismo,
Mas o povo com civismo
Com tacto e inteligência,
Não consentiu a demência,
D um rei novato e banal,
Evitando Portugal
De morrer de indigência.

Homens de raro valor
Como Costa e outros mais,
Usam processos leais
E à Pátria dão vigor
Brilha já a rubro a cor
Da bandeira que a salvou,
E a Pátria enfim respirou
Ao ser expulso, o mal, o vício,
Está livre do pecipício
A que a monarquia a deitou.

Fado Republicano (para piano)
Música de Reynaldo Varella ,10 de Outubro de 1910