sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Um casino com história.... bom fim de semana

Hoje, no casino da Figueira da Foz, mais uma lição de História

1. Não sabia que Jorge de Sena conhecia a Figueira da Foz, tendo vindo passar férias de Verão, em 1935, a casa do seu tio Jaime Teles.
2. Destaco Sinais de Fogo pela importância que a Figueira assume na obra, editada postumamente, em 1979, por sua mulher Mécia Sena.
3. “Não há para uma cidade destino mais invejável do que o ser mistificada pela literatura”.
4. De facto, na obra de Sinais de Fogo de Jorge de Sena, a ação decorre sobretudo na Figueira da Foz, em 1936. A personagem principal, Jorge, que é o narrador, parte de Lisboa para aí passar férias:
5. “No dia seguinte, parti para a Figueira da Foz, no comboio da manhã. Comprei o jornal. A primeira página estava cheia da mesma coisa: rebentara em Espanha uma Revolução e que o jornal em grandes letras, chamava Nacional.”pág.64
6. “Quando cheguei à Figueira, a estação era um tumulto de espanhóis aos gritos, com sacos e malas, crianças chorando, senhoras chamando umas pelas outras, homens que brandiam jornais, e uma grande massa de gente comprimindo-se nas bilheteiras.”

7. Para quem não conhece a Figueira da Foz, o Bairro Novo é e foi um espaço privilegiado dos acontecimentos, era um espaço de passagem para a praia, ou mesmo local onde “ nas mesas de cafés só uns raros sujeitos gozavam da sombra ante uma cerveja. Eram, como de costume, pais de família, que se recusavam a encher de areia os sapatos na praia. Raramente pais tomavam banho, como aliás as mães ou as tias. "
8. Nesta zona existiam pensões onde estavam hospedados os veraneantes e, entre eles, alguns amigos do Jorge que este procura. As pensões proporcionam igualmente encontros amorosos:
9. “Voltei ao Bairro Novo, e entrei na pensão Ramos. O empregado da porta reconheceu-me, e sim, não tinham descido, estavam com visitas, eu que subisse. Subi trémulo e, mais trémulo , fiquei indeciso diante das portas dos quartos. Devia ser este o da Mercedes. Bati muito de leve, com os nós dos dedos. À escuta olhava de um lado para o outro, esperando que uma das portas próximas se abrisse repentinamente. A chave deu uma volta, e ela surgiu no intervalo estreito que entreabrira: - Tu?- , De relance pareceu-me mais bela do que nunca, com os olhos escancarados, e o cabelo meio despenteado. Empurrei-a para dentro e fechei a porta atrás de mim.”Pag.241
10. (…) Toda a gente que cruzava comigo, cruzava porque já estava envolvida, ou era envolvida porque cruzava a cadeia de acontecimentos, cada um dos quais gerava outros que, por sua vez, estavam ligados a alguns dos anteriores ou a todos?
11. (…) A Figueira era um meio pequeno, onde todos os fios de uma meada se cruzavam. Mas eu não era da Figueira. E das duas uma: ou sempre uma Figueira se formava à volta de qualquer pessoa, (…) ou a sorte estava fazendo de mim uma espécie de catalisador, que, não podia dar um passo, nem falar com ninguém, sem que desencadeasse reacções possíveis só com a presença dele,e que apenas aguardavam esta presença para se realizarem.”pp.260/1
12. Outro dos espaços importantes é o casino que reflecte o ambiente próprio da época(…)
13. O casino servia de ponto de encontro não só de amigos que estavam de férias mas também dos habitantes da cidade , como era o caso do tio do Jorge.
14. Era um dos sitos onde podiam divertir-se e arranjar companhia .
15. É ainda neste espaço que o comportamento de Jorge com Mercedes é denunciado pelo noivo traído, Almeida, que armou um escândalo. –“ Sabes o que ele fez ontem? Um escândalo no casino , no meio de uma data de gente, gritando alto e bom som que eu era”,,,(p.344)


Informações colhidas na publicação semestral da Associação Doutor Joaquim de Carvalho,
17. LITORAIS, estudos figueirenses