terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ecos do Fado (3)




No tríptico Lá Vem a Nau Catrineta Que Traz Muito que Contar, Almada fixou o imaginário da cidade, sintetizando a lenda em três cenas, desde a aventura dos mareantes no mar tenebroso, a fé na divina providência, o amor à pátria e à família.

Na primeira cena, os marinheiros mostram-se desesperados, enquanto o capitão busca por uma linha de terra. Nas velas, pairando sobre o navio, as sombras do diabo e da morte. Na segunda cena, central,um anjo da guarda figura junto ao mastro, enquanto no plano superior as três filhas do capitão agurdam o regresso da Nau. Uma guitarra portuguesa repousa no solo. Finalmente, a terceira cena, o desfecho feliz: a chegada a terra, a multidão dando largas à sua alegria e o capitão abraçando a três filhas.
De facto, mais do que o gosto dos portugueses pelo Fado, esta obra poderá testemunhar, o gosto dos portugueses por um final feliz.
Marinheiro e Rapariga, 1928, de A. Negreiros
Os modernistas aproveitaram os temas e objetos populares introduzindo no contexto do "reaportuguesamento de Portugal" e mesmo o autor do fulgurante Manifesto Anti-Dantas não deixou de produzir interessantíssimos testemunhos pictóricos de grande carga onírica evocando o universo do Fado e da guitarra portuguesa.
De facto ,se na obra Fadistas sobressai a ironia subjacente ao traço caricatural, no desenho Marinheiro e Rapariga concluído em Paris em 1923, a representação do universo fadista faz-se associar á faina marítima.



O próprio Almada afirmaria na sua Histoire du Portugal par Coeurem 1919. Tejo, lombada do meu poema aberto em páginas de Sol... Portugal é o último coração europeu antes do Mar. Nós temos todos os rios de que tínhamos necessidade. O Tejo é o maior; nasce em Espanha, como outros, mas não quis ficar lá(...) Nós també temos varinas que vão pelas ruas como barcos sobre o Mar. Têm o gosto do sal. Nas canastras transportam o Mar

In,catálogo de Ecos do Fado da Arte Portuguesa de XIX a XXI

Ecos do Fado, exposição (2)

O Marinheiro,1913, Constantino Fernandes
Da Madragoa à Ajuda pela Pampulha, 1947, de Emmerico Nunes



"Nas palavras de Rui Mário Gonçalves, por várias atitudes automarginalizantes, entre as quais podemos salientar duas: a obsessão pela originalidade e a passagem pelo amor fútil aos atos provocatórios futuristas"
Assim surgirão Almada Negreiros que conviveu assiduamente com Santa-Rita.
A eles voltarei mais tarde...