domingo, 21 de outubro de 2012

Notícias do Jaime.... « A Europa Alemã», partes (0) e (1)


Vamos lá preparando a visita de "Merkiavel".... para Novembro...
Mão amiga.... lutador incansável desta "forma " de Europa, mas crente numa outra,  se Merkel desaparecer nas eleições de 2013... , Jaime Ferreira um estudioso de filosofia e sociologia, apresenta-nos, "petit à petit"... a tradução de um pequeno livro saído na Alemanha, do sociólogo alemão, Ulrich Beck (1944)
Vão passando pois pelo Mar....

Beck, Ulrich (2012)
A Europa alemã. Novas paisagens de poder sob o signo da crise
(Berlim: Suhrkamp Verlag)

(0)Índice [p. 5]

Prefácio
Introdução: a Alemanha perante a decisão do ser ou não ser da Europa

I. Como a crise do euro dilacera a Europa – e como a liga
1. A política de austeridade alemã divide a Europa: os Governos aprovam-na, as populações
    estão contra
2. Os sucessos da União Europeia
3. A cegueira da economia
4. Política interna europeia: o conceito de política referida ao Estado nacional é anacrónico
5. A crise da União Europeia não é uma crise de endividamento

II. As novas coordenadas de poder na Europa: como se chega à Europa alemã
1. A Europa ameaçada e a crise da política
2. A nova paisagem de poder na Europa
3. «Merkiavel»: a hesitação como táctica domesticadora

III. Um contrato social para a Europa
1. Maior liberdade através de mais Europa
2. Maior segurança social através de mais Europa
3. Mais democracia através de mais Europa
4. A questão do poder: quem é capaz de impor o contrato social?
5. Uma Primavera europeia?



[p. 6 ]

(1)Prefácio [pp. 7-8]


     Será que, quando o leitor tiver este livrinho entre mãos, na Grécia se voltará a efectuar pagamentos em dracmas ou, até na própria Alemanha, em marcos alemães? Ou será que o leitor vai sorrir destes cenários sombrios, por a crise ter sido superada, há muito, e a Europa política ter saído dela, fortalecida? Já o simples facto de se fazerem estas perguntas, o andar às apalpadelas na névoa da incerteza, diz muitas coisas acerca do estado volátil da Europa e do risco de se querer entendê-lo.
     Todos sabem isso, mas dizê-lo, explicitamente, é o mesmo que quebrar um tabu: a Europa tornou-se alemã. Ninguém o quis, deliberadamente, mas, em face do colapso do euro, a potência económica que é a Alemanha «resvalou» para a posição de grande potência europeia decisiva. O historiador inglês Timothy Garton Ash escreveu o seguinte, sobre este assunto, em Fevereiro de 2012.

No ano de 1953, Thomas Mann proferiu, em Hamburgo, um discurso perante estudantes em que lhes implorou que não lutassem por « Europa alemã» uma mas sim por uma« Alemanha europeia» . Este fórmula foi repetida, vezes sem conta, nos dias da reunificação alemã. Hoje, porém, assistimos a uma variação dela que só poucos tinham previsto: uma Alemanha europeia, em uma Europa alemã.(1)

     Como é que foi possível acontecer isto? Quais são as suas consequências? Que futuros ameaçadores haverá, ou que vantagens aliciantes? Tudo isto são questões que irei discutir, neste trabalho.
     Presentemente, o debate público é quase exclusivamente dominado pela perspectiva da economia, o que parece ser um pouco absurdo, se nos lembrarmos de como os próprios economistas foram surpreendidos pela crise. O problema que, aqui, reside, é o seguinte: a perspectiva económica não vê que não se trata apenas de uma crise da economia [8] (e do pensamento económico) mas antes, muito em especial, de uma crise da sociedade e da política – e da compreensão predominante de sociedade e de política. Não sou eu portanto que, como sociólogo, estou a fazer incursões no terreno alheio da economia, a economia é que se esqueceu da sociedade de que ela trata.  
      A minha intenção é propor, neste trabalho, uma nova interpretação da crise. Gostaria de tentar analisar, detidamente, as notícias que se vêem, diariamente, nos programas televisivos ou nas parangonas dos jornais, e investigar o seu relacionamento mútuo. A leitura que ofereço assenta no quadro de referência da minha teoria da sociedade de risco. Esta perspectiva, focada num modernismo sobre o qual se perdeu o controle, que apresentei nas obras respectivas, vai ser, aqui, desenvolvida em relação à crise da Europa e do euro.
     Para superar a crise precisamos, de acordo com um ponto de vista muito difundido, de mais Europa. Este “mais Europa”, porém, encontra cada vez menos adesão nas sociedades dos Estados membros. Poder-se-á pensar na consumação da união política partindo destes pressupostos? Em uma política fiscal, económica e social comum? Ou, no decurso da união política, deixou-se de fora, durante muito tempo, a questão decisiva, ou seja, a questão da sociedade europeia, ignorando-se o soberano, ou seja, o cidadão?
   Put society back in it! Não se esqueçam da sociedade! O objectivo deste trabalho é dar visibilidade, na crise financeira, às modificações do poder e à nova paisagem de poder, na Europa.
       

Tradução de Jaime Ferreira, professor/leitor na Alemanha, jubilado

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