sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A vida dos outros... em "episódios de rádio"...



Amigos, este "post", anda a ser adiado há muito.  É triste, mas ao mesmo tempo mostra-vos uma força da natureza que é bom dar a conhecer. É um" post" consentido pelo pai da "Silvina". 
"Silvina" é um nome fictício de uma senhora" menina" de 30 anos, que conheço de pequenina,  filha de um grande amigo, que há 3 anos, desde que foi fazer o doutoramento para a Sorbonne na  área da Biologia, foi confrontada com um câncer do qual sabe há muito que se não vai safar. 
"Silvina" tem sido acompanhada desde sempre  em Paris por  médicos de eleição e serviços hospitalares com a  eficiência necessária à perversidade da doença e rapidez com que se propaga. 17 operações. Vai partir para a 18ª operação.. Seu pai vai a caminho e não sabe como volta.
"Silvina" é a pessoa mais estranha que conheci até hoje numa circunstância como a dela pela sua auto suficiência e determinação. 
De cada operação sai reforçada para uma viagem , pois sempre andou de mochila às costas. . 
Em Maio, depois de uma intervenção, o seu querido médico mandou-a fazer uma viagem grande.
Escolheu Moçambique. Quis conhecer a terra onde o pai nasceu. Foram dias de cumplicidades infinitas.
Mas verdadeiramente da "Silvina" vão saber e conhecer no blogue que escreve , quando pode,  em casa ou no hospital.
Basta clicar em EPISÓDIOS DE RÁDIO  e deixar-se contagiar .
"Silvina" quer continuar no anonimato.

Cansaço ou mal do tempo...

Não, não é Cansaço...Não, não é cansaço... 
É uma quantidade de desilusão 
Que se me entranha na espécie de pensar, 
E um domingo às avessas 
Do sentimento, 
Um feriado passado no abismo... 

Não, cansaço não é... 
É eu estar existindo 
E também o mundo, 
Com tudo aquilo que contém, 
Como tudo aquilo que nele se desdobra 
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. 

Não. Cansaço por quê? 
É uma sensação abstrata 
Da vida concreta — 
Qualquer coisa como um grito 
Por dar, 
Qualquer coisa como uma angústia 
Por sofrer, 
Ou por sofrer completamente, 
Ou por sofrer como... 
Sim, ou por sofrer como... 
Isso mesmo, como... 

Como quê?... 
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. 

(Ai, cegos que cantam na rua, 
Que formidável realejo 
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) 

Porque oiço, vejo. 
Confesso: é cansaço!... 

Álvaro de Campos
Pintura de DEGAS