segunda-feira, 3 de março de 2014

« A RAPARIGA FRANCESA», Hiroshima Meu Amor

RETRATO DA FRANCESA

Tem trinta e dois anos.
É mais sedutora do que bela.
Poder-se-ia chamar-lhe, de certa maneira «The Look» («O Olhar»). Nela, tudo «passa pelo olhar», desde a palavra ao movimento.
Este olhar está esquecido de si próprio. Esta mulher olha por
sua conta. O seu olhar não consagra o seu comportamento, ultrapassa-o sempre .

Sem dúvida que, no amor, todas as mulheres têm os olhos belos, mas, a esta em particular, o amor lança-a na desordem da alma (escolha voluntariamente stendhaliana do termo) um pouco antes do que ás outras. Porque ela está mais « apaixonada pelo próprio amor» do que as outras mulheres.
Sabe que se não morre de amor. Durante a sua vida teve uma esplêndida ocasião para morrer de amor. Ela não morreu em Nevers. Depois, e até hoje, em Hiroshima, onde encontra este japonês, arrasta consigo, dentro de si, a »melancolia» de quem viu adiada a única oportunidade de decidir o seu próprio destino.
....
....
 Excerto de apêndice do livro escrito por Duras para Alain Resnais, HIROSHIMA MEU AMOR, QUETZAL EDITORES, 1987