Camões, de Júlio Pomar
Quando não te vejo perco o sisoFormosura do Céu a nós descida, Que nenhum coração deixas isento, Satisfazendo a todo pensamento, Sem que sejas de algum bem entendida;
Qual língua pode haver tão atrevida, Que tenha de louvar-te atrevimento, Pois a parte melhor do entendimento, No menos que em ti há se vê perdida?
Se em teu valor contemplo a menor parte, Vendo que abre na terra um paraíso, Logo o engenho me falta, o espírito míngua.
Mas o que mais me impede inda louvar-te, É que quando te vejo perco a língua, E quando não te vejo perco o siso.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" |