terça-feira, 10 de junho de 2014

"quando não te vejo perco o siso".... Camões e os nossos amores

Camões, de Júlio Pomar

Quando não te vejo perco o sisoFormosura do Céu a nós descida, 
Que nenhum coração deixas isento, 
Satisfazendo a todo pensamento, 
Sem que sejas de algum bem entendida; 

Qual língua pode haver tão atrevida, 
Que tenha de louvar-te atrevimento, 
Pois a parte melhor do entendimento, 
No menos que em ti há se vê perdida? 

Se em teu valor contemplo a menor parte, 
Vendo que abre na terra um paraíso, 
Logo o engenho me falta, o espírito míngua. 

Mas o que mais me impede inda louvar-te, 
É que quando te vejo perco a língua, 
E quando não te vejo perco o siso. 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"