Nem todos os frutos vermelhos
merecem o céu
da tua boca
Jorge Sousa Braga
sábado, 30 de maio de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
quinta-feira, 28 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
será que...? olhares
Será que pela hera passou, uma folha não apanhou, porque do seu amor não se lembrou?
Talvez o olhar se tenha fixado mesmo no correr desta água cristalina, nascida da terra, onde a pureza do afeto se faz sentir.
Coisas do ar puro...
sábado, 23 de maio de 2015
Olhares seguidos de leitura breve. Bom fim der semana
Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
/
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
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quinta-feira, 21 de maio de 2015
"ouver"
quarta-feira, 20 de maio de 2015
terça-feira, 19 de maio de 2015
lembranças no tempo mas fora do espaço, mas no tempo das cerejas...
Alguém que já foi da família faz hoje anos.
Nascido quase um pouco antes de meados do séc. XX, no tempo em que as coisas fora do tempo eram muito pouco prováveis e caras. As cerejas.
Mas a mãe do "neófito", ao longo da vida e com passagem de testemunho para quem lhe passou a tomar conta do "rebento", tinha que comprar sempre neste dia , cerejas. Eram caras, muito caras e encontrá-las nesta altura do ano , em cidade de província, como era uso apelidar as cidades fora do contexto da capital, não era tarefa fácil. Mas elas apareciam. havia um certo magnetismo entre quem as procurava e as recebia e só assim o ciclo do tempo ficava completo.
Vidas.
Nascido quase um pouco antes de meados do séc. XX, no tempo em que as coisas fora do tempo eram muito pouco prováveis e caras. As cerejas.
Mas a mãe do "neófito", ao longo da vida e com passagem de testemunho para quem lhe passou a tomar conta do "rebento", tinha que comprar sempre neste dia , cerejas. Eram caras, muito caras e encontrá-las nesta altura do ano , em cidade de província, como era uso apelidar as cidades fora do contexto da capital, não era tarefa fácil. Mas elas apareciam. havia um certo magnetismo entre quem as procurava e as recebia e só assim o ciclo do tempo ficava completo.
Vidas.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
"duas lições"
LIÇÕES
Duas lições:
- aprender a agarrar ( a lição mais óbvia)
- aprender a largar (a mais difícil).
Quanto tempo consegues... antes de largar?
Qual o tempo mínimo entre os momentos de agarrar e de largar?
Conseguir agarrar nas coisas como se agarra no fogo. Largar no momento em que se agarra, no exacto momento. Conseguir tratar os objectos assim.
O pior: antes de agarrar, largar. Ou seja: desistir.
O tédio e a impaciência.
Nada me satis
faz (não quero continuar a agarrar nada, o desejo de continuar a agarrar não existe) - tédio.
Impaciência: quero sempre agarrar outra coisa, quero sempre a próxima queimadura -
para que a dor que outro objectos
acontecimentos me prometem apague
elimine a dor de agora, a dor actual.
Gonçalo M: Tavares , Breves Notícias Ficcionais ( notícias de homens)
Duas lições:
- aprender a agarrar ( a lição mais óbvia)
- aprender a largar (a mais difícil).
Quanto tempo consegues... antes de largar?
Qual o tempo mínimo entre os momentos de agarrar e de largar?
Conseguir agarrar nas coisas como se agarra no fogo. Largar no momento em que se agarra, no exacto momento. Conseguir tratar os objectos assim.
O pior: antes de agarrar, largar. Ou seja: desistir.
O tédio e a impaciência.
Nada me satis
faz (não quero continuar a agarrar nada, o desejo de continuar a agarrar não existe) - tédio.
Impaciência: quero sempre agarrar outra coisa, quero sempre a próxima queimadura -
para que a dor que outro objectos
acontecimentos me prometem apague
elimine a dor de agora, a dor actual.
Gonçalo M: Tavares , Breves Notícias Ficcionais ( notícias de homens)
domingo, 17 de maio de 2015
deixo-vos um verso
a amada nas altas montanhas
o amador ao rés das águas
HERBERTO HELDER
Poemas Canhotos (últimos poemas saídos postumamente)
o amador ao rés das águas
HERBERTO HELDER
Poemas Canhotos (últimos poemas saídos postumamente)
sexta-feira, 15 de maio de 2015
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Porque nem todos os esforços chegam a bom porto
Segue, uma declaração de Monet já no fim de sua vida, porque sua existência será eterna, a respeito das “Ninféias”:
“Estas paisagens refletidas tornaram-se para mim uma obrigação, que ultrapassa as minhas forças que são as de um velhote. Mas mesmo assim, eu quero chegar ao ponto de reproduzir aquilo que sinto. E espero que estes esforços sejam coroados de êxito.”
“Estas paisagens refletidas tornaram-se para mim uma obrigação, que ultrapassa as minhas forças que são as de um velhote. Mas mesmo assim, eu quero chegar ao ponto de reproduzir aquilo que sinto. E espero que estes esforços sejam coroados de êxito.”
terça-feira, 12 de maio de 2015
Esteban Vicente...
... criador de estados de alma tão diferentes e sombrios...
Vieste como um Barco Carregado de Vento
Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira, in 'O Canto do Vento nos Ciprestes'
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira, in 'O Canto do Vento nos Ciprestes'
domingo, 10 de maio de 2015
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Vida, cantada e sonhada...
Olha,
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura o rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Seela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na suavida
Olha,
Será que é de louça,
Será que é de éter
Será que é loucura,
Será que é cenário a casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu,
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na suavida
Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão,
Para sempre é semprepor um triz
Ai, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha,
Será que é uma estrela,
Será que é mentira
Será que é comédia,
Será que é divina a vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida.
Edu Lobo e Chico Buarque
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura o rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Seela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na suavida
Olha,
Será que é de louça,
Será que é de éter
Será que é loucura,
Será que é cenário a casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu,
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na suavida
Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão,
Para sempre é semprepor um triz
Ai, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha,
Será que é uma estrela,
Será que é mentira
Será que é comédia,
Será que é divina a vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida.
Edu Lobo e Chico Buarque
terça-feira, 5 de maio de 2015
Ei-los que partem e alguns que chegam
Chegam ao litoral e o horizonte aberto parece uma dádiva. Sobreviveram a guerras, massacres, misérias, trazem uma fome total, de comida, de um lugar acolhedor, de um gesto que não traga mais desdém, hostilidade, perigo. Partiram do nada, numa fuga onde esgotaram todos os recursos que sobravam. Venderam-lhes a promessa de um futuro e embarcaram porque não tinham outra opção. Foram resgatados 5842 homens, mulheres, crianças no Mediterrâneo nos últimos dois dias...
Ana Sousa Dias no DN
5 de maio de 1996...
... foi a um domingo, dia da Mãe e o meu pai resolveu deixar-nos com a mesma calma com que sempre viveu.
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
José Tolentino Mendonça
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
José Tolentino Mendonça
domingo, 3 de maio de 2015
3 de Maio ...
O que me apetece quase todos os dias, mas hoje em particular...
Mimo.
(um símbolo da maternidade... , contudo, aqui ao meu lado, tenho uma colher de pau para enxotar os pombos que teimam em fazer ninho na minha varanda. )
Mimo.
(um símbolo da maternidade... , contudo, aqui ao meu lado, tenho uma colher de pau para enxotar os pombos que teimam em fazer ninho na minha varanda. )
sábado, 2 de maio de 2015
sexta-feira, 1 de maio de 2015
1º de Maio ou o "Moving Day"
Em Portugal e em outros países, a data escolhida para o dia internacional dos trabalhadores foi, desde logo, associada aos ritos de Primavera. Não admira. A articulação entre a regeneração da natureza e os desejos de regeneração social teria estado na génese da festa cívica moderna. De facto, por mero acaso ou não, já anteriormente o primeiro dia de Maio tinha sido palco de acções populares. E Mona Ozouf demonstrou que a festa da árvore da liberdade, que irrompeu nos inícios da Revolução Francesa, entroncava numa das tradições das "maias" camponesas, embora, na sua nova expressão, o rito constituísse um gesto simbólico de insurreição e de surgimento de um tempo novo. Por sua vez, no Estado de Nova Iorque, o 1º de Maio coincidia com o Moving Day, dia da renovação de alugueres e de contratos de toda a espécie, o que contribuía para a existência de um clima de transformação na sociedade.
Algo de parecido acontecia em Portugal. No Alentejo, os inícios daquele mês era o período das alterações e renovações dos contratos de arrendamento ou da sua quebra; em Lisboa, o do tempo do pagamento das rendas (o outro era Novembro), e o das mudanças nos preços e de domicílio. Em suma, na Primavera, a natureza predisporia os espíritos para aderirem a atitudes de renascimento, rebeldia e optimismo.
Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério romântico e culto cívico dos mortos em Portugal (1756-1911), Minerva, Coimbra, 1999, p. 249.
O que Joana Bernardes colocou no mural de A TEXTOS E PRETEXTOS DE FERNANDO CATROGA, no FB.
Algo de parecido acontecia em Portugal. No Alentejo, os inícios daquele mês era o período das alterações e renovações dos contratos de arrendamento ou da sua quebra; em Lisboa, o do tempo do pagamento das rendas (o outro era Novembro), e o das mudanças nos preços e de domicílio. Em suma, na Primavera, a natureza predisporia os espíritos para aderirem a atitudes de renascimento, rebeldia e optimismo.
Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério romântico e culto cívico dos mortos em Portugal (1756-1911), Minerva, Coimbra, 1999, p. 249.
O que Joana Bernardes colocou no mural de A TEXTOS E PRETEXTOS DE FERNANDO CATROGA, no FB.
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