quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Uma receita de Ano Novo... Bom Ano de 2016

Uma receita de Ano Novo dada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Dezembro/1997.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MAR Á VISTA, com Sampaio da Nóvoa

Uma onda de votos pode levá-lo à vitória.

Laurie Anderson, filme

No final, este é um filme tanto sobre a perda como sobre o ato de partilhar algo pessoal com outro ser humano. Um dos momentos mais conceptualmente fulcrais em Coração de Cão é precisamente o contar de uma história sobre o contar de uma história. Aí, Laurie Anderson chega à conclusão que o ato de contar histórias pessoais é um processo de esquecimento. Paradoxalmente, portanto, Coração de Cão torna-se tanto uma coletânea de histórias pessoais cristalizado na eternidade do cinema, como um veículo para a própria autora lidar com a imediata realidade da sua perda e seu esquecimento. (aqui)

domingo, 27 de dezembro de 2015

porque hoje é domingo...

Pintura de Carl Larsson, 1904

"Haverá um acordar", diz Mário Cesariny

Eu acrescento, ás vezes pode ser tarde de mais. Por isso , não esqueças o despertador da da vida, a idade.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Sampaio da Nóvoa, a Presidente



DEBATES TELEVISIVOS EM QUE PARTICIPA SAMPAIO DA NÓVOA
 
1 de janeiro
RTP
Sampaio da Nóvoa – Marisa Matias
2 de janeiro
RTP
Sampaio da Nóvoa – Henrique Neto
4 de janeiro
TVI
Sampaio da Nóvoa – Edgar Silva
5 de janeiro
TVI
Sampaio da Nóvoa – Paulo Morais
7 de janeiro
SIC
Sampaio da Nóvoa – Marcelo Rebelo de Sousa
9 de janeiro
TVI
Sampaio da Nóvoa – Maria de Belém

Nota – Ainda não é conhecido o horário dos debates, mas supõe-se que seja depois dos telejornais

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Hoje dou-te um verso. Amanhã, logo se vê...

Carl Larsson, Uma Menina e um Piano, 1897

Natal. Eis que uma paz, que ao certo é doutra vida,
Abranda toda a terra empedernida,
E é cada mesa em festa uma igrejinha acesa...
Abre hoje o coração - portal que se franqueia.
São todos teus irmãos: até os da cadeia,
As que andam na má sina e os que não têm ceia...

José Régio, Toada do Natal

domingo, 20 de dezembro de 2015

Espanha , eleições, e, eu por arrasto...

Picasso no seu período cubista. Hombre...

"Há coisas encerradas dentro dos muros que, se saíssem de repente para a rua e gritassem, encheriam o mundo" 
Frederico García Lorca

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

bom fim de semana

Dez dias, dez dias sem nos vermos. O tempo de atravessar o Atlântico, ver novas caras e novos corações e regressar. Assim foi com o meu angélico neto Gabriel. (9 M).
Reencontramo-nos ontem , no seu quartinho, após uma boa sesta. Estávamos sós.
Se eu tivesse desaparecido, o Gabriel nunca mais se lembraria que esta vovó tinha existido. Mas... , aquele sorriso, imenso, envergonhado, parecia..., o encostar da sua cabeça no meu ombro e pescoço, como a relembrar cheiros , textura da pele, ora para a esquerda ora para a direita, sempre num esgar de olhos postos nos meus, fez-me saber que o meu "pequenito" já sabe bem quem eu sou. Ainda sinto o calor da sua boquinha no meu colo desnudo.
O perfume, vou mantê-lo, "AMOUR, AMOUR". Os amores vão, quando têm que ir,  mas o perfume fica, e, o Gabriel também. 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

"o sono faz a gente esquecer tudo"

“Todos eram grandes, grandes e tristes, ceando a mesma tristeza aos pedaços.
Talvez que a culpa de tudo tenha sido a luz do lampião meio mortiça que substituíra a luz que a Light mandara cortar. Talvez.
Feliz era o Reizinho que dormia com o dedo na boca. Botei o cavalinho em pé, bem perto dele. Não pude evitar de passar as mãos de leve em seus cabelos. Minha voz era um rio imenso de ternura.
— Meu pequerrucho.
Quando toda a casa estava às escuras eu perguntei baixinho:
— Tava boa a rabanada, não estava Totoca?
— Nem sei. Não provei.
— Por quê?
— Fiquei com uma coisa entalada no gogó que não passava nada… Vamos dormir. O sono faz a gente esquecer tudo.
Eu me levantara e fazia barulho na cama.
— Onde você vai, Zezé?
— Vou botar meus tênis do lado de fora da porta.
— Não ponha, não. É melhor.
— Vou pôr, sim. Quem sabe, se não vai acontecer um milagre. Sabe, Totoca, eu queria um presente. Um só. Mas que fosse uma coisa novinha. Só pra mim…
Ele virou para o outro lado e enfiou a cabeça em baixo do travesseiro.”
In “O Meu Pé de Laranja Lima”, José Mauro de Vasconcelos, edição Dinalivro
José Mauro de Vasconcelos, escritor brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1924, é autor, entre outras obras, de “O Meu Pé de Laranja Lima”, publicado em 1968, uma das obras mais populares da literatura portuguesa, traduzido em 52 línguas, um retrato social do Brasil século passado.

    quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

    Prémio de fotografia

    Uma fotografia da cidade de Lisboa foi a grande vencedora do Grande Prémio Global do Metro Photo Challenge 2015. fotógrafo russo , Eduard Goodeev

    segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

    viagens na minha terra... "partida pra Alfarelos" (pregão antigo)




    Aqui é uma terra do quase ninguém. Granja do Ulmeiro, mais conhecida por ALFARELOS. 
    Estação que já foi histórica nas ligações e transbordos da ferrovia ,situada na linha que liga Figueira da Foz a Coimbra. Quem vem do Norte o do Sul e queira ir para uma das localidades entre estas duas cidades tem que mudar em Alfarelos. Terra de frio e humidade no inverno e de calores infernais no verão. Pombal, ganhou-lhe em paragens obrigatórias de Alfas e Intercidades. Mas, hoje, recuperou um pouco dessa "dignidade" perdida para os passageiros ICs. 
    Uso-a com frequência. Aconteceu ontem. Mas , não me furtei, por engano a meia hora de espera. 
    Atravessei a linha e fui tomar um café. 
    Há quem me ache senhora de dar "confiança"... , mas isso não passa de crítica ao meu prazer de falar e sorrir para quem o sorriso me abre com a vontade de falar. 
    A solidão da terra, a crise, o que foi e já não é, mas o  desejo de continuar a ser. A família, a doença, o cidadão e a cidadania, teria sido um "remanso" que iria até ao jantar, sim porque o dono do café estava contente. Na noite anterior tinha recebido 30 pessoas para comer. Coisa do natal. A época põe-se a jeito de fazer algumas pessoas felizes e a quebrar a solidão local.
    Gostei do "patrão". Ele também deve ter gostado do meu jeito de o ouvir . E, simpaticamente , quando já apressada saí para o meu IC, ofereceu-me uma tacinha de arroz doce, feita por ele. E não é que fiquei emocionada? E que me  senti mimada?
    O arroz doce era divinal. 
    A promessa de um café ou mais numa próxima viagem ficou agendada. 
    E, quando prometo, cumpro.

    (Alfarelos, fica mesmo ao lado da linda vila de Montemor-o -Velho)

    sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

    O amor~~~~~~~~~~~~~~

    O amor não se manifesta no desejo de fazer amor com alguém, mas no desejo de partilhar o sono.


    Milan Kundera
    Felix Valloton, 1894

    quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

    Eugénia Cunhal~~~~~~~"quando vieres"


    Quando vieres
    Encontrarás tudo como quando partiste.
    A mãe bordará a um canto da sala...
    Apenas os cabelos mais brancos
    E o olhar mais cansado.
    O pai fumará o cigarro depois do jantar
    E lerá o jornal.
    Quando vieres
    Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
    E cabelos entrançados
    Que deixaste um dia.
    Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
    Como se te tivessem sempre conhecido.
    Quando vieres
    nenhum de nós dirá nada
    mas a mãe largará o bordado
    o pai largará o jornal
    as crianças os brinquedos
    e abriremos para ti os nossos corações.
    Pois quando tu vieres
    Não és só tu que vens
    É todo um mundo novo que despontará lá fora
    Quando vieres.

    Eugénia Cunhal, in «Silêncio de Vidro»



     

    segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

    em descanso

    Vieira da Silva olhada com amor e carinho

    leituras pouco breves e profundas

    Está um lindo dia", diz a voz de homem. É de manhã e ele tem à frente mais de uma centena de funcionários da empresa que dirige. Estão ali para ser esclarecidos sobre o destino da dita. Porém, antes de começar um discurso de quase duas horas, o homem põe uma condição: só pode ficar quem garantir que confia nele: "Quem não confia pode ir já embora." (continua aqui)

    domingo, 6 de dezembro de 2015

    "afinal só agora , por prudência, mando a carta" . Bom domingo.

    Botequim, 1973, de Nikias Skapinakis

    N. Correia, F. Botelho, Maria J. Pires. 1974
    Interessante, na pintura de NS, nunca se encontram homens com mulheres. E, hoje lembrei-me de o passar por aqui ao ler CORREPONDENCIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER / JORGE DE SENA.

    7 de novembro de 1964

    * O Nikias Skapinakis está preso há um mês.

    quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

    A Herberto Helder , em jeito de homenagem. Será.

    Morreu Herberto Helder, poeta avesso a homenagens, que de si e do mundo só falou, muitas vezes cripticamente, através da sua produção poética. Por isso, para aqui o recordar, cita-se um excerto do texto que o poeta, ensaísta e professor Manuel Gusmão permitiu que fosse incluído no número 10 (Maio, 2005) da extinta revista Boca do Inferno em que se homenageiam os dois poetas portugueses que muitos consideram ser os maiores do nosso tempo: Carlos de Oliveira e Herberto Helder.
    Nesse brilhante ensaio, intitulado Carlos de Oliveira e Herberto Helder ao encontro do encontro, escreve Manuel Gusmão:
    «Em Herberto Helder, a poesia é a da palavra que participa celebratória e nocturnamente das "metamorfoses da carne no esquema orgânico da matéria" (Helder, 1985, p. 7), a palavra suscitadora e augural que fragmenta e caotiza o corpo, o mundo e as suas imagens. Fala Herberto daquela "inteligência que aparelha o caos em relações sensíveis de elementos" (ibidem). Depois da tentativa desesperada da invenção de um corpo amoroso em Rimbaud, e das perturbações tectónicas do refazer do corpo próprio em Artaud, Herberto é o grande poeta que une nas transmutações reversíveis o corpo amoroso e escrevente e o cosmos que seria o corpo não-orgânico dos humanos.»

    A Fundação D. Luís I organiza no Auditório do Centro Cultural de Cascais, às 16 horas do dia 5 Dezembro, uma celebração do poeta e da sua obra intitulada Herberto Helder: Realidade e Mito, com a participação de Estela Guedes, Fernando Martinho, Gastão Cruz, Júlio Conrado e Salvato Teles de Menezes. A actriz Ana Padrão lerá poemas do homenageado.

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    POEMA 
    li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
    quando alguém morria perguntavam apenas:
    tinha paixão?
    quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
    se tinha paixão pelas coisas gerais,
    água,
    música,
    pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
    pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
    paixão pela paixão,
    tinha?
    e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
    se posso morrer gregamente,
    que paixão?
    os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
    os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
    homens e mulheres perdem a aura
    na usura,
    na política,
    no comércio,
    na indústria,
    dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
    trémulos objectos entrando e saindo
    dos dez tão poucos dedos para tantos
    objectos do mundo
    ¿e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
    pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
    e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
    palavra soprada a que forno com que fôlego,
    que alguém perguntasse: tinha paixão?
    afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
    ponham muito alto a música e que eu dance,
    fluido, infindável,
    apanhado por toda a luz antiga e moderna,
    os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a 
    paixão e eu me perdesse nela,
    a paixão grega
    de A Faca não Corta o Fogo 


    o 1º de dezembro, festa da Restauração, que por aqui só passou a 2... Sempre a tempo e com espaço


    ...
    A festa, por sua vez, evoca o passado e liga-o ao presente, simulando
    o futuro, segundo Mona Ozouf(". Nomeadamente a festa de aniversário
    pressupõe a repetição na qual se escora a esperança, projectando-se nela
    o desejo ou necessidade de imortalidade e de indestrutibilidade.
    O significado da comemoração das festas nacionais deve também
    ser apreendido à luz da história das mentalidades, na interacção entre
    informação e educação, permitindo a dilucidação de um universo psicológico, intelectual e moral através dos gestos, fórmulas e insígnia^'^'.

    0' Fernando Catroga, Meriiórin, Histórin c' Historiogrnfin, Coimbra, Quarleto
    Editora, 2001, pp. 21-23.
    O 1" DE DEZEMBRO - MEMÓRIA E LITURGIA CÍVICA
    NA 2' METADE DE OITOCENTOS**, de Maria da Conceição Meireles Pereira, na Revista de História das Ideias, nº28 de 2007