domingo, 25 de junho de 2017

Hoje, dou-te um verso, amanhã, logo se vê ....

O gato do João Viana
-Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
       Se quiseres ser gentil, perguntar como estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras :
Nada a fazer, minha rica . O menino dorme. Tudo o mais acabou.

Mário de Sá-Carneiro, Caranguejola

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O "portuguesismo solar, carnal e pagão" * em noite de S. João

De Eduardo Viana , Bonecos de Barro, 1919

Excerto de poema a S. João

* Palavras de José Augusto-França a propósito de Almada e Eduardo Viana,  sobre o modernismo futurista na força que os anima.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

fim de semana a vosso jeito....

És tu quem está nos começos do mar
e as nossas palavras vão molhar-te os pés
Ruy Belo , Vestigia Dei

(o meu olhar)

terça-feira, 13 de junho de 2017

Fernando Pessoa e "Os Santos Populares"



"Fernando Pessoa terá escrito, como ele próprio afirma, os três poemas dedicados aos Santos no dia 9 de Junho de 1935. Quer seja verdade quer não, o que conta para o seu entendimento é a vontade do poeta que assim tenha sido."
(Introdução de Yvette Kace Centeno)
"Ainda que escritos sobre o tema popular dos três santos lisboetas de Junho, estes poemas não são, . nem pretendi que fossem, populares"
(nota de introdução de Fernando Pessoa)


SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia -
Treze de Junho , quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esse cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!


Santo António,  és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Catholico, apostolico e romano.

....

.....

A cada um o seu "sermão" ....


Santo António e Fernando Pessoa , de Júlio Pomar

sábado, 10 de junho de 2017

Um dia que não podia passar em branco, querida Língua Materna

*
PORTUGUÊS

Se a língua ganha
a dimensão da escrita
e a escrita toma
a dimensão do mundo
*
Descer é preciso até ao fundo
na busca das raízes da saliva
que na boca vão misturar tudo
*
Mas há ainda a pressa do papel
que no tacto navega a brusca seda
Se a sede se disfarça sob a pele
descendo pela escrita essa vereda
*
E já se inventa
enlaça
ou se insinua
*
Se entrelaça a roca e o bordado
que as palavras tecendo
lado a lado
querem do país a alma nua
*
Aí podes parar
e retornar à boca
esse espaço de beijo e de cinzel
*
Onde a fala retoma a língua solta
trocando a ternura
pelo fel
*
Um lado após o outro
a dimensão está dita
O tempo a confundir qualquer abraço
entre o visto e o escrito
*
Espelho e aço
*
Nesta fundura boa
e mar profundo
*
Para depois sibir a pulso
o mundo

*

("Inquietude" - 2006)

Camões, de Júlio Pomar, 1986

Poema de Maria Teresa Horta , retirado do FB, neste dia 10, Dia de Camões e da Língua

terça-feira, 6 de junho de 2017

"Vilão quer-se espremido com limão"

DA ICONOGRAFIA DO LIMÃO NAS ARTES | 11
(...em torno do topónimo Silveira dos Limões, Beira Baixa)
> Martin Jarrie (n.1953), s/t (citron), c.2004
(graças a Pedro António Santos Saraiva)
Retirado do FB

sábado, 3 de junho de 2017

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Armando Silva de Carvalho , 1938-2017, - o poeta -

W.C.

Neste país onde ninguém sabe 
como obram as musas, 
já dizia o outro, 
fazer versos realmente versos, 
que sigam o espasmo do ânus provecto 
dessas criaturas fúteis, decantadas, 
ainda é e será muito difícil. 

Existe sempre um braço etéreo 
que puxa o autoclismo 
no momento exacto da defecação. 
Ouve-se um ruído, 
alguém pergunta ao outro o que se passa: 
«É o som das águas que bate na garganta.» 
Aliviados então os corações repousam 
na sala de visitas da casa devassada 
a que chamam d'alma. 

Armando Silva Carvalho, in 'Sentimento de um Acidental' 


Peça do Museu de Arte Nova de Aveiro, as minhas fotografias

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O significado de "chapada ou bofetada de luva branca " ...


As minhas fotografias


A expressão mais conhecida é «bofetada de luva branca» ou «bofetada de luva de pelica», que significa «resposta delicada, apropriada a uma ofensa» (Orlando Neves, Dicionário das Expressões Correntes, Lisboa, Ed. Notícias, 1999).
É uma expressão usada com bastante frequência como elogio a alguém que tem a arte de ser subtil (mas assertivo) na resposta a algo desagradável que sofreu, de que foi vítima. Trata-se, portanto, de uma expressão metafórica e, simultaneamente, irónica, em que se procura traduzir a ideia de uma situação em que sobressai a inteligência e a subtileza do atingido como forma de retribuir ou responder a uma agressão. Com este ato, a vítima ultrapassa o seu agressor, não respondendo da mesma maneira, não se exaltando, nem enervando. A sua superioridade é evidenciada pelo seu sangue-frio, pelo distanciamento a que se impôs para não descer ao nível do outro.