Nas redes sociais brinca-se muito com Fátima .
Até entrámos de novo na fase do F/f/f …. E eu apetece-me gritar f…. se, para tantos humoristas, filósofos e
jornalista, professores e escritores e
outros escribas, acrescentando aos leitores, comentadores, onde também me
incluo. Mas, desta, sobre o tema, só leio.
Daí a vontade também de escrever.
Respeito as pessoas de
fé, e corroborando as palavras de Frei Bento, ai de mim criticar ou pôr em
causa o que leva as pessoas a fazer determinado tipo de promessas. A exploração
das mesmas, é outra história.
Fui católica por
tradição, e aos 15 anos saí para uma vida laica, ateia com o crescimento e com enorme “inveja” dos homens/mulheres de
fé, cujo mistério não me tocou.
Procurei sempre as
explicações da vida na razão e nos humanos.
Estes últimos , também tão imperfeitos, e a caminho da” imortalidade”
graças à ciência e à tecnologia , são
uma enorme fonte de decepção. E se acontecer, serão Homens?
Mas há gente boa, muito boa, felizmente.
Como dizia um
publicista brasileiro “as únicas pessoas sem fé são que que têm saúde”.
E veio-me à memória
José Afonso, o nosso Zeca, que nos fins de sua vida se agarrou a Santa Teresa
d`’ Ávila e a Santo Agostinho.
A vida, desde que me
lembro dela em concreto, não me deixou passar muitas coisa ao lado, no que se
relaciona com Fátima. Sou de uma cidade,
Figueira da Foz, onde fins dos anos 60 /70, nesta data, saíamos á rua depois de jantar para ver as
centenas de autocarros com peregrinos, que no regresso ao norte, pernoitavam na
cidade.
E o que sentíamos como
um “folclore” ? A ocupação da cidade por autocarros e peregrinos, as botijas de
gás que acendiam os fogões de dois bicos para cozinhar, todos os artefactos de
cozinha, cobertores para dormir no chão e na relva do nossos jardins públicos, e as senhoras que alugavam quartos para os
que, com mais possibilidade, podiam dormir no conforto de uma cama limpa
mais banho. Uma forma de subsistência, num país de fracos recursos e próprio de
uma cidade que já vivia da época balnear.
Fui a última vez a
Fátima tinha eu 18/9 anos.
Já tinha ido mais vezes
em excursões do liceu e a casamento. Era hábito , quem podia, casar em Fátima .
Faz precisamente amanhã 47 anos que o 1º dia de trabalho sazonal como guia turística,
na empresa AVIC, foi a Fátima. Os clientes eram ingleses, classe média, média
baixa, “from” Manchester e Liverpool.
Foi precisamente a Fátima.
Quadro mais
surrealista, não poderia ter acontecido na minha vida. Ainda não sabia o que
era o surrealismo, ouvia falar dele, nem conhecia H. Bosch . Seria o Marrocos
de que se falava nos anos 60? Talvez. Mas o comportamento e a sujidade foram
aterradores. A pobreza, a do país. A fé,
a das desgraças que acontecem a cada um ou que se não desejassem que
acontecesse.
A ida a Fátima, era
roteiro de sábado depois de almoço. Numa
outra viagem , aonde decidi que os clientes teriam 2h para conhecer e “sentir”,
foi a última que saí do autocarro.
Deparei -me com
rapariguinhas jovens, grávidas, internadas em instituições religiosas de
freiras/madrastas, que as faziam andar de joelhos á volta da capelinha das
aparições, a penitenciarem-se do pecado …
Fiquei horrorizada.
Daí para a frente
evitei ir a Fátima fazendo-me substituir por um guia espanhol, muito católico e
que estimava muito a minha mãe como reputada funcionária da Biblioteca
Municipal.
Sou da geração das Mães
que lhes roubaram os filhos para a guerra colonial. Regressar ou não, era
sempre uma dúvida . Regressar são, era outra dúvida . Daí as promessas, as
caminhadas a pé a cumprir as suas promessas.
Um horror no sofrimento permitido pela igreja .
Era miúda quando o Papa
Paulo VI veio a Portugal. Também aterrou em Monte Real e passou pela Figueira. Foi uma loucura.
Porquê criticar o ênfase
dado pela CS desta vinda do Papa Francisco a Portugal ? Há
tantos outros canais alternativos e algumas estações de rádio com boa música.
..
Quantos “Franciscos” encontraram na vossa vida
como este ? Eu, só encontrei “francisquinhos”, e, esses meninos , e meus alunos.
Fui ver o
filme/documentário Fátima de João Canijo. Gostei bastante . E ainda ontem
comentei á mesa. É uma peregrinação que
quem assiste, faz durante 2 h e
tal, mas onde o país real e as idiossincrasias do ser humano estão lá quase
todas .
No fim, já em sentimento “beato”, beijam-se e
abraçam-se e perdoam-se.
Fez-me lembrar outras
situações de grandes encontros comunitários /partidários, onde cá fora se “apunhalam”,
e lá dentro, em festa, são todos
companheiros e camaradas. É a fé ….
É um filme hiper realista
Para finalizar este
desabafo que tinha comigo há dias, o poeta Tolentino, numa das suas crónicas
desta semana no Expresso, ao definir etimologicamente a palavra “Papa”, pai,
falou da nossa enorme” orfandade de pai”. E na verdade estamos órfãos de boas
referencias. Por isso Francisco se
tornou um fã de várias religiões, e de pessoas improváveis.
-------------------------------------------------------------------------------------------
( quando era miúda, ia com a minha avó , no mês de Maio, à procissão
das velas que se fazia na aldeia. Adorava aquela mística da vela acesa dentro
de um copo de papel , e ouvir vendedores gritarem, “copo e vela dez tostões”… )
E… para todos os que
fazem anos hoje e amanhã, “parabéns a você”… É que os há e eu conheço.
Fotografia do filme "Fátima", Rita Blanco e a outra menina que me desculpe, não fixei o nome.